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Ernesto MUIANGA
Director Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos
entrevista  

Por Revista Acolhendo
Maputo, 5 de maio de 2008

 
 

REVISTA ACOALFAPLP: Fale um pouco sobre o seu trabalho em Moçambique

 

Ernesto Muianga: A minha paixão é Educação. Iniciei o trabalho na Educação muito jovem ainda. Depois dos meus estudos primários, escolhi a carreira de docente e assim fiz o Curso de Professores de Posto Escolar em 1970. No entanto, em 1968 já dava aulas na 3ª e 4ª classes, no intervalo do meu curso porque a Escola do Alvor, onde fazia o curso estava em reabilitação, tendo encerrado por um ano.
Esta oportunidade de contacto com os alunos e de trabalho na sala de aula, consolidou a minha vocação de docente antes de ser diplomado. Repare-se que, nessa altura, em 1968, tinha 16 anos de idade e alguns alunos eram da minha idade ou mais velhos que eu. Estou a falar no período antes-Independência do meu país, colonizado pelos portugueses até 1975, ano em que se libertou por via da luta de libertação nacional.
Era típico, por força da descriminação racial, as crianças entrarem na escola fora da idade normal, sobretudo nas zonas rurais, onde as escolas, a maior parte, estavam sob responsabilidade da Igreja Católica, na sequência da Concordata da Santa Sé, assinado entre o Estado Português e o Vaticano.
Concluído o Curso em 1970, voltei a minha província de origem, Gaza, onde trabalhei como Director e docente nas Escolas Primárias de Cumbene, Conjoene, no Distrito de Xai-Xai e Carreteca no Distrito de Manjacaze, onde nasceu o primeiro Presidente do Movimento de Libertação de Moçambique (Frelimo), Doutor Eduardo Chivambo Mondlane que tinha estado nos Estados Unidos da América, como docente Universitário e funcionário das Nações Unidas. Pelo seu alto grau de nacionalismo, sentido de patriotismo e espírito da unidade nacional, é chamado “Pai da Unidade Nacional”, porque uniu todos os moçambicanos em torno de um objectivo comum, independentemente da sua cor, raça e etnia: a independência nacional. Foi assim que abdicou de todas as mordomias que tinha nos Estados Unidos e regressou ao país para a libertação da pátria. Depois de Manjacaze, fui colocado na Escola Primária de Chongoene, localidade onde nasci e fiz o ensino primário.
Dado o bom desempenho que tive durante este período, em novembro de 1975, o Ministério da Educação e Cultura, através da Direcção Provincial de Educação e Cultura de Gaza, seleccionou-me no conjunto de outros colegas para uma formação intensiva de Formador de Formadores (Instrutor) dos Centros de Formação de Professores Primários implantados em todas as 10 províncias do país. Depois desta formação, exerci as primeiras funções no Centro de Formação de Professores Primários de Inhamissa – Província de Gaza, como Instrutor e ao mesmo tempo como Instrutor itinerante.
Em novembro de 1976, sou transferido para o Centro de Formação de Professores de Chiúre e Montepuez, na Província de Cabo Delgado, como Adjunto Pedagógico e a seguir como Director. Em 1979, tive a oportunidade de frequentar um curso intensivo de Formador de Formadores (Instrutor) na Alemanha do leste, ex-RDA, por um ano, que me deu o grau de diploma pelo Instituto Superior Pedagógico de Halle.
Depois do meu regresso ao país, sou colocado no Centro de Formação de Professores Primários de Namaacha, Província de Maputo, como Director, em 1980.
Em 1984, sou transferido para a Direcção Provincial de Educação e Cultura para exercer funções de Chefe do Serviço Provincial de Formação de Professores, tendo trabalhado com a componente formação inicial nos Centros de Formação de Professores e no Instituto Médio Pedagógico e com a componente formação em exercício por via de Ensino à Distância para os professores sem formação pedagógica do Ensino Primário. Depois, na mesma Direcção Provincial, assumi funções de Chefe de Repartição Metodológica.
Em 1990, sou designado Director do Instituto de Aperfeiçoamento de Professores, actualmente Instituto de Educação a Distância e Aberta, com a função de formar, em exercício, professores primários sem a preparação pedagógica.
Com a recriação da Direcção Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos, em 2000 que tinha sido extinta em 1988, sou nomeado Director Nacional.
Neste período, inicia-se o relançamento das actividades de alfabetização e educação de adultos e educação não-formal. Aqui há que destacar a aprovação da Estratégia do Subsector de Alfabetização e Educação de Adultos e Educação Não-Formal 2001/2005, com os seguintes vectores principais: alargamento de acesso a alfabetização, melhoria da qualidade de ensino que é oferecido e o reforço da capacidade institucional.
Com base nesta Estratégia foram estabelecidas as seguintes áreas prioritárias: Mobilização da mulher e da rapariga para os programas de alfabetização; revisão do currículo de alfabetização e educação de adultos; elaboração de manuais de alfabetização; formação de quadros de alfabetização e educação de adultos; estabelecimentos de parcerias com a sociedade civil e outros provedores de alfabetização; melhoria da recolha e tratamento de dados estatísticos; incremento financeiro.
Para o efeito, estão sendo desenvolvidos programas regulares de alfabetização, programas de educação não-formal, programa de alfabetização pela rádio, programa de formação de educadores profissionais e de alfabetizadores voluntários, programa “família sem analfabetismo” que consiste nos alunos alfabetizarem os seus parentes e alfabetização de líderes comunitários e membros dos conselhos consultivos distritais, a Iniciativa de Alfabetização para o Empoderamento, em inglês designado por “LIFE”, nos esforços conjugados entre os governos e a Unesco e no âmbito da Década das Nações Unidas para a Alfabetização, a cooperação sul-sul dos Palops no campo de Educação de Jovens e Adultos, entre outros.
Os programas são ministrados em Língua Portuguesa e outros em línguas nacionais, com base na metodologia bilingue. De referir que Moçambique é multilíngüe, com cerca de 33 línguas e 100 dialectos. O português é uma língua segunda para a maioria da população.
Como resultado destes programas, de 93% que era taxa de analfabetismo depois da independência, hoje esta taxa baixou para 51,9%.

REVISTA: Qual dessas acções considera a mais importante para a alfabetização em Língua Portuguesa no país?
Ernesto Muianga: As dificuldades que ainda persistem para a alfabetização, não só de alfabetização em Língua Portuguesa, estão ligadas a exiguidade de recurso para a generalização dos programas que depois de avaliados se revelaram eficazes e úteis para a vida das comunidades. As mulheres alfabetizadas são as que mais frequentam as unidades sanitárias para as consultas dos seus filhos, planejamento familiar e estão em condições de interpretar correctamente as prescrições médicas; pessoas alfabetizadas tem acesso a informação impressa, assinam os seus bilhetes de identidade no lugar de usar o dedo, são capazes de ler cartas dos seus familiares, podem comercializar e fazer trocas dos produtos excedentários, fazem as suas poupanças, encontram uma satisfação espiritual porque conseguem ler a bíblia nas suas comunidades religiosas tanto em português como em línguas nacionais, melhoram as suas actividades de subsistência com uso das tecnologias elementares, participam no saneamento do meio, evitam as queimadas descontroladas e podem se prevenir de doenças endémicas, incluindo HIV/SIDA; participam de forma activa na educação dos seus filhos...
Entrevistado  
Ernesto MUIANGAEspecialista em Educação (Pós-graduação em Estudos de Políticas Públicas) pelo Instituto Superior de Administração Pública (ISAP), Director Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos.
Endereço dos Serviços:
Direcção Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos – Ministério da Educação e Cultura
Av. 24 de Julho, nº 167, C. P. nº 34
Fone: nº 21 - 490998 – Fax nº 21- 490979
Ernesto Muianga
   

 

   
 
 
 
 
 
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